Mais um aniversário do PNE: deu bolo nas metas e não merece parabéns

Terça, 24 de setembro de 2024

Mais um aniversário do PNE: deu bolo nas metas e não merece parabéns
 

O aumento das matrículas na educação profissional e técnica no Brasil nos últimos anos ainda é muito tímido. Infelizmente, esse crescimento está longe de alcançar as metas estabelecidas pelo Plano Nacional de Educação (PNE) 2014-2024. Em uma década, houve um aumento de apenas 24%, o que deixa claro que não estamos perto de triplicar as matrículas nesse segmento até 2024, conforme planejado. Essa situação é preocupante, principalmente quando comparamos o Brasil com países da União Europeia, onde cerca de 46% dos estudantes estão matriculados em cursos técnicos, enquanto no Brasil esse número não ultrapassa 10%.

A educação profissional é um pilar essencial para o desenvolvimento da sociedade, das empresas e da economia como um todo. Ela não apenas oferece aos jovens habilidades práticas e relevantes para o mercado de trabalho, como também responde diretamente aos desafios da empregabilidade no país. No entanto, o Brasil não tem dado a devida prioridade a essa modalidade de ensino.

O mercado de trabalho está mudando rapidamente com a economia digital, mas nossos esforços para formar profissionais são insuficientes. Apenas 10% dos alunos em cursos técnicos estão em áreas críticas, como engenharia e manufatura. Enquanto isso, 88% das matrículas no ensino médio ainda focam na formação geral, sem levar em conta que menos de um quarto dos jovens brasileiros chega à universidade. Apostar apenas no ensino superior é como começar uma refeição pela sobremesa – importante, mas longe de ser o essencial para uma economia emergente.

Desconexão entre educação e mercado de trabalho

Essa desconexão entre a formação educacional e as necessidades do mercado é alarmante. Estamos formando jovens para um futuro incerto, enquanto a demanda por profissionais em setores técnicos cresce. O resultado é um mercado de trabalho saturado de mão de obra inadequada e uma economia que perde competitividade.

Embora o novo Fundeb tenha sido um passo importante ao considerar as matrículas na educação profissional como "dupla matrícula" para efeito de financiamento, ainda estamos longe de resolver os problemas estruturais que impedem a expansão necessária dessa modalidade de ensino. A verdade é que precisamos ampliar significativamente a oferta de cursos técnicos para que a educação profissional cumpra seu papel na construção de uma economia produtiva.

Falta de visão estratégica

No nível de políticas ministeriais, o subfinanciamento crônico da educação técnica no Brasil reflete a falta de visão estratégica – um problema que atinge tanto a direita quanto a esquerda. A educação profissional não pode ser vista apenas como uma alternativa para quem não segue o caminho universitário. Ela deve ser entendida como uma peça-chave no desenvolvimento do país, capaz de promover inclusão social, aumentar a empregabilidade e contribuir para o crescimento econômico.

É necessário um olhar estratégico que permita a passagem de conhecimento entre as gerações. Sem isso, a juventude que hoje não estuda nem trabalha estará despreparada para enfrentar os desafios da nação. A educação é um compromisso coletivo, e sua responsabilidade não cabe apenas ao Estado, mas a toda a sociedade.

Daniel Nascimento
Coordenador do Programa de Qualificação Profissional da FAT